Rota do Queijo Paulista – Cicloturismo

Caminho do Queijo Artesanal Paulista

 

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Texto: Ricardo Gaspar

Em setembro de 2017, com o objetivo de mostrar que queijo de qualidade podia ser encontrado sem viajar para fora, foi lançado um projeto dentro do Estado de São Paulo, da criação de um selo de qualidade, que garantia que as queijarias atendiam as mais altas especificações na produção de queijos de alta qualidade, e próximo a capital temos lugares incríveis, cada qual com suas particularidades e histórias, oferecendo aprendizado e experiências.

O consumo de um produto hoje, muito mais que aquilo que você retira da embalagem, carrega todo um processo até chegar na sua mão, poder conhecer a procedência, método de produção e a história do produtor, muda completamente o significado e a forma desse consumo.

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Partindo da ideia, que não existe forma melhor de conhecer qualquer lugar que utilizando a bicicleta, fiz um levantamento de todas as queijarias e desenhei percursos que levassem ao local, onde pudéssemos, conversar com o produtor, fazer uma degustação entendendo um pouco mais das diferenças e replicar para que mais pessoas tivessem a oportunidade de conhecer esses lugares, que preservam a alma e os princípios de sustentabilidade e muito amor no que fazem.

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Quando resolvi seguir pela trilha de realização de eventos, sempre foi claro, que a bicicleta seria o meio, mas o propósito primeiro seria a humanização através do contato com a natureza, a preservação do meio e o fomento da economia pôr onde passarmos, incentivando e valorizando o pequeno produtor, para que ele possa fazer a diferença em seu entorno.

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Já estive em quase todas as queijarias com grupos, e posso afirmar que cada uma delas tem uma história diferente, mas todas encantadoras, pessoas que largaram a vida corporativa para acreditar num sonho, outros herdaram da família a fazenda e foram se moldando, uns literalmente apaixonados pelos laticínios, enfim, sentar com uma tábua de queijos, produzidos logo ali ao lado e acompanhar as palavras e olhos brilhando de quem fez aquilo a partir da vaca, ovelha que é chamada pelo nome, no fundo do salão principal, muda completamente o sentido do pedaço de queijo, aliás, quantos queijos deliciosos de tantas formas e cores.

As principais queijarias da Rota do Queijo:

Capril do Bosque: Joanópolis (pausado)

A reconhecida queijeira Heloisa Collins, está desde 2010, produzindo os mais reconhecidos e premiados queijos caprinos do país, com leite fresco de rebanho próprio, alimentado naturalmente. O famoso Azul do Bosque, é a única versão do queijo azul de cabra no país. O bistrô é muito charmoso, com uma área aberta e oferece pratos também. O trajeto pode ser feito a partir de extrema subindo a Serra do Lopo ou uma travessia saíndo por Piracaia, elaboramos os dois trajetos dependendo do grupo.

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Fazenda Atalaia: Amparo

Fazenda centenária do século XIX, uma das cidades mais importantes na era de ouro do café, com uma riqueza arquitetônica conservada. A fazenda conserva as paredes de taipa que estão sendo reconstituídas a sua forma original, a câmara de maturação não é refrigerada, característica única da queijaria. Rosana e Paulo iniciaram vendo produtos de porta em porta, e conquistaram medalha de ouro no World Cheese Awards com o queijo Tulha. O percurso tem boas subidas, em um trajeto circular misto de terra e asfalto, muito divertido.

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Fazenda Santa Luzia: Itapetininga

Tenho um carinho especial pelo casal Maristela e Martin, o dia que estive lá estava chovendo sem parar, fui assim mesmo, na volta com lama até nos pensamentos, ela me deu toalha e sabonete e me jogou dentro do chuveiro. Na saída uma boa conversa com o Martin, sobre a criação do gado Simental, os 18 tipos de queijo, a beleza da coloração com beterraba e a degustação do Giramundo e premiado queijo Tropeiro que é coberto por cinza vegetal. O trajeto é linear e lindo por Sarapuí.

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Laticínios Montezuma: São João da Boa Vista

O queijeiro Fábio Pimentel, já gostava dos queijos de búfala e aproveitou a fazenda da família para produzir, o que ele não comia, ele vendia e entregava num Fusca 1973. Hoke ele conta com 600 animais e produz 24 receitas diferentes. Pela distância de São Paulo o ideal é passar o final de semana na região.

Pé do Morro: Cabreúva

Uma das mais próximas de São Paulo, aos pés da Serra do Japi, faz parte do Sítio 7 luas da família do Erico Kolya, que trabalhou por anos no mundo corporativo, até decidir buscar algo que fazia sentido para ele, foi trabalhar em fazendas fora do país em troca de cama, comida e aprendizado. Quando voltou decidiu aplicar o conhecimento, e hoje além do Sol do Japi, Pá e Granito, também tem uma pequena produção de azeite e vinhos. O projeto é em breve poder contar com acomodações em que os hóspedes tenham uma imersão junto a natureza. O trajeto pode ser circular com um misto de asfalto e terra ou linear, ambos passam pela tradicional Estrada dos Romeiros.

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Pardinho Artesanal: Pardinho

Localizado em uma das regiões mais bonitas do interior paulista, a Fazenda Sant’Anna criava gado de raça como a Gir, com a qualidade da matéria prima o queijo foi uma consequência. A Pardinho Artesanal conta com o que tem de mais moderno na esfera técnico laboratorial, e os queijos são maturados em caves por 15 meses. Entre as receitas temos o Cuesta, o Cuestazul e o Mandala. Temos algumas rotas disponíveis dependendo do nível do grupo, pois Bofete, Pardinho e Botucatu, tem subidas pra todos os gostos.

 

Queijaria Belafazenda: Bofete

A mais novinha do grupo, também localizada na Cuesta, a veterinária Carolina Vilhena, decidiu dedicar se integralmente a produção de queijos, a matéria prima vem da raça Jersey. Os destaques são o Soberano, Azul de Bofete e o Bem Brasil Rústico.

Queijaria Rima: Porto Feliz

O casal de queijeiros Clara e Ricardo Rettman, utiliza queijo de ovelha na produção de queijos, iogurtes e coalhadas, Ricardo já trabalhou nas olimpíadas, já morou por quase uma década no Amazonas entre os índios, e hoje utiliza a fazenda da família para dar vida a suas criações. Os principais destaques o Porã, Guaianá e o Porto Feliz. O trajeto de bicicleta é circular com paisagens lindas entre estradas rurais.

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Leiteria Santa Paula: São João da Boa Vista

A Leiteria da queijeira Paula Florence é adepta do estilo mais natural, cria vacas da raça Girolanda, alimentadas com pasto e os bezerros criados aos pés das mães, sem aplicação de hormônios. Resultado é matéria prima de qualidade e o xodó da casa é o queijo Fermier, que nasceu por acaso, mas essa história você vai ouvir dela própria.

A One Bike Hub, criou rotas exclusivas por essas principais queijarias, apresentando um pouco do local em que estão sediadas, conhecendo a história de cada uma delas da boca do próprio fundador e oferecendo a possibilidade de degustação dos produtos junto com as informações importantes.

Acreditamos que esse seja o papel mais importante do cicloturismo nessa nova economia, de valorizar o que tem procedência, o que é feito de forma sustentável e orgânica e valorizando que fazem a diferença na economia local.

Rota do Queijo – Cabreúva

Rota do Queijo – Cabreúva – Pé do Morro

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Uma das coisas mais legais de pedalar entre as montanhas é descobrir pequenos lugares com alma e desvendar suas histórias.

Com o aumento do interesse pelos produtos artesanais, fui atrás do Caminho do Queijo Artesanal Paulista, fazendas produtoras de queijos de alta qualidade, espalhadas pelo interior de São Paulo.

Hoje já temos mais de dez produtores que usam esse selo, e tem os produtos reconhecidos fora do país, com prêmios que nos enchem de orgulho.

Resolvemos visitar algumas delas durante o ano, e começamos em março com a Pé do Morro, produtos nascidos no Japi e elaboramos uma rota para chegar lá de bicicleta.

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O ponto de partida seria o clássico Empório Uai, localizado em Cabreúva e que virou um ponto obrigatório de parada dos ciclistas que pedalam por Romeiros, o famoso Mineiro já recebe os visitantes com um pedaço de queijo na mão, gelo no formato da caramanhola e já vira seu melhor amigo em menos de um minuto.

Do ponto zero, devidamente alimentados com café e pão de queijo recheado, partimos para pegar um trecho de asfalto até entrarmos na terra na Olaria Spina, desse ponto em diante, começamos a subir e enxergarmos a cidade cada vez menor.

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A sequência de subidas é boa e bonita, até chegarmos a um longo muro de pedras que nos pede para paramos para uma foto e respirar o ar fresco da montanha, descemos sentindo Bom Fim do Bom Jesus, da pequena igreja rosa e voltamos para a terra.

A história do Erico Kolya, é muito legal, ele trabalhou por anos no mundo corporativo, até um plano de demissão voluntária, chama-lo para o destino, pegou suas coisas e foi morar na Alemanha e Argentina, onde ficou trabalhando em fazendas de queijo, uvas e azeite, trocando a mão de obra por cama e comida.

Quando aprendeu o suficiente, retornou para as terras que tinha na Serra do Japi, e decidiu que iria trabalhar com o que gostava, a ascensão do mercado de queijo foi puxando ele, que hoje está tem quatro tipos de queijo e atende as casas especializadas de São Paulo.

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Fomos recebidos na porteira do Pé do morro com uma longa subida de bloquetes, e quando chegamos enfim, a mesa estava repleta de queijos cortados, pães artesanais e suco de uva gelado, tudo isso sob o olhar do verde da linda Serra do Japi.

Fizemos um tour pelo parreiral, olival, câmara de maturação e futuras instalações da fazenda, o Erico hoje tem um café que funciona aos finais de semana e já pensa em construir cabanas para imersão na natureza.

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Saímos de lá carregados de queijos e voltamos com uma altimetria muito mais convidativa até nosso ponto de origem, acreditamos nessa força do tripé da sustentabilidade, ajudando o crescimento do comércio local, do pequeno produtor e as possibilidades dessa nova economia.

O grupo voltou para São Paulo, mas já com data para a próxima Queijaria, dia 29 de Junho, a One Bike Hub, irá para Porto Feliz, conhecer mais de perto a história do Ricardo e da Queijaria Rima. Que tal?

L’Etape 2018

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Toda prova, naqueles minutos em que você se direciona para o ponto de largada até o momento oficial do início da prova, olho para os lados, vejo as pessoas e não apenas na forma de competidores, penso em quantas histórias temos em cada um desses ciclistas, quantos desses ingredientes de superação, medo, coragem, alegria, compõem fazem parte deles.

Alguns se mantém focados com aquele olhar que atravessa sem ver nada a frente, outros se dividem em risadas e o corpo tenso passando outra mensagem, as pernas ficam balançando em cima do pedal em uma tentativa descontrolada de se controlar, todos os 2.700 participantes desse L’Etape Brasil, terão uma história única, só deles, e que ficará para sempre na memória.

Pensando nisso, resolvi contar essa história a partir de tantas outras histórias, e possivelmente todos que participaram da prova encontrarão em algum pedaço desses quilômetros, preenchidos em linhas.

O L’Etape Brasil, mudou de casa em 2018, depois de quatro anos sendo muito bem recebido pela cidade de Cunha, trocou o cenário, e foi para Campos do Jordão, local tradicional de provas e treinos dos paulistas.

A característica principal é o visual das nuvens, as araucárias e subidas para todos os gostos, o percurso foi dividido em duas distâncias. 77 km ou 111 km, ambas muito duras, proporcionando um desafio com D maiúsculo para todos.

Do centro da cidade, no Bairro do Capivary, logo ao lado do trilho de trem que corta a cidade, começa essa história, com a retirada do kit, quando somos apresentados ao uniforme e nosso numeral.

 

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CRIS KATINSKAS:  AS SUBIDAS ME FAZEM mais VIVA E FORTE.

No último dia 30/09 tive a oportunidade de participar de um dos maiores desafios da minha vida.

A pergunta é desafio?  Porque desafio se centenas de outros ciclistas estavam lá no ápice de suas performances, aptos a encarar, como quem treina num sábado de manhã na nossa velha e boa Estrada dos Romeiros, SEGUROS E ÁGEIS

Eu estava lá, junto com eles, frágil, temerosa e ansiosa em meu curral, o último deles, sorrindo um riso nervoso de quem sente alegria e medo.

Meu medo era permeado pelas lembranças de uma queda, por lembranças de dores e perdas.

Sim, dia 30 era o dia de aniversário de 4 meses de um acidente bobo que me causou 04 fraturas na face, 03 costelas, a destruição de meu cotovelo e a fratura de meu joelho.

Muita coisa? Sim, mais muito pouco perto da minha paixão pelo ciclismo.

La estava eu, torta em minha bike, adaptada a minha nova realidade, acreditando que tudo ia dar certo.

A cada curva na descida, que eu fazia com extremo cuidado, eu via um novo horizonte, e acreditava que eu ia chegar lá.

E vinham as subidas…. Ahhhh como eu amo as subidas. São nelas que eu dou o meu melhor, onde eu tenho a oportunidade de invocar minha força interior e me empodeirar.

Como eu amo as subidas… Elas me fazem viva e forte

E foi no topo da subida do Pico do Itapeva que veio meu maior desafio. A Chuva. A tormenta com raios e riscos, e granizos que atingiam aqueles que como eu estavam sonhando e lutando com seus medos e desafios. Olhava com a visão embaçada pela tormenta e só conseguia pensar .. TUDO VAI DAR CERTO

Foi lindo, foi desafiador, foi intenso e foi apaixonante FOI L’ETAPE.

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PAOLA MELLO : A MAMÃE GANHOU !!!

Apesar de não estar tão bem treinada, resolvi enfrentar o desafio de 77km no L’Etape Brasil em Campos do Jordão para acompanhar minhas amigas. No entanto, mesmo reduzindo o ritmo, o percurso foi muito sofrido para mim. Por volta do km 64, um pouco antes última da subida do pico do Itapeva, eu comecei a ter caimbras e travei.

Confesso que pensei em abandonar a prova naquele momento. E como se a situação não pudesse ficar pior, começou a chover.  Eu chorei, não sei se de dor ou de raiva… afinal, eu já havia executado o percurso duas vezes antes da prova, e sabia exatamente o que me esperava, mas desta vez, por alguma razão, o meu corpo parecia não estar respondendo mais.  Fiquei ali parada algum tempo, juntei forças não sei de onde, e segui em frente… Ao cruzar a linha de chegada, senti uma sensação incrível de missão cumprida. Para fechar com chave de ouro, recebi um abraço apertado de minha filha de 4 anos. Ela gritou “a mamãe ganhou” ao me ver receber a medalha de finisher. Senti uma gratidão enorme naquele momento, e fiquei muito feliz de não ter desistido e de poder ser motivo de orgulho para ela… foi inesquecível!

 

RICARDO DAGRE SCHMID : O REENCONTRO COM O PAI NA SERRA VELHA

Letape Brasil – Um Caminho – Uma Vida

 

A minha história no L’Etape Brasil, confunde-se com muitas outras histórias. Com os olhos voltados para 1989, quando iniciei no ciclismo e MTB, por inspiração e apoio do meu pai João e, sempre em companhia dos meus irmãos Filipe e Priscila, adotamos a cidade de Campos do Jordão como o local especial para nossos treinos. Uma cidade absolutamente encantadora, seja pela arquitetura de suas construções, belezas naturais e, principalmente, o que há de melhor, sua topografia perfeita para o ciclismo. Durante a década de 90, cada viagem para pedalar em Campos do Jordão foi inesquecível. O vento, o frio, o sol no rosto, as paisagens, ficaram impregnados na memória. Com o passar dos anos, outras obrigações surgiram, faculdade, trabalho, família e o ciclismo ficou adormecido. Mas a vida prega peças. Inexplicavelmente, entre o nascimento da minha primeira filha Marina, no dia 29/09/2009 e, da Julia em 04/07/2017, voltei a praticar o esporte que tanto amo, com o incentivo da minha esposa Adriana. E, o primeiro grande desafio, foi o L’Etape Brasil 2015. Com uma speed emprestada do meu grande amigo JP, encarei as infindáveis subidas de Cunha. A experiência se repetiu nos anos de 2016 e 2017. Já aguardava a chamada para o Letape 2018, quando os organizadores informaram que seria em Campos do Jordão. Quase não acreditei no que tinha ouvido. O lugar que guardava tantas recordações, que fez parte da minha vida no ciclismo, seria o local da corrida????? Inacreditável. Uma mistura de euforia tomou conta do meu corpo. Tinha apenas um probleminha. O aniversário da minha filha seria no dia 29/09 e como as “mulheres” organizam a minha agenda, tive que “negociar” um “alvará” especial para participar. Liberação concedida, “kit” na mão às 19h30 do dia 29, bike preparada, jantar e sono. A cidade estava maravilhosa no dia 30. Centenas de ciclistas e admiradores ali, em Campos do Jordão, prontos para a largada. Prontos para realizarem os seus sonhos e construírem as suas histórias. Ansiedade máxima, estava realizando o meu sonho. Competir em Campos do Jordão novamente no L’etape. Prova iniciada, trajeto lindo, maravilhoso, duro como todo L’etape tem que ser, muitas subidas e descidas, visual incrível, organização impecável, astral sensacional. Frio, Sol e Chuva. Tudo perfeito. As lembranças do passado se confundiam com a vivência do presente. O corpo já não é o mesmo de 1989, meu Pai já está mais nesse mundo me acompanhando, as pernas não respondem aos comandos na velocidade desejada, mas o sonho e desejo pelo ciclismo é o mesmo de antes. Eu estive lá com minhas lembranças, construindo e transformando a minha história. A GRATIDÃO e o RESPEITO aos organizadores que acreditaram no ciclismo e que proporcionaram tantas novas histórias e sonhos aos participantes, fica aqui registrado. Letape 2019, estarei lá.

 

CRISTIANE ANDRIGHETTI: APESAR DA DOR, SÓ FICAM AS BOAS SENSAÇÕES

Ah L’Étape…… Com toda certeza foi uma experiência muito importante pra mim no ciclismo, além de ser uma prova com uma organização impecável, teve o desafio interno que é sempre muito transformador!

O L’Étape começou quando fiz minha inscrição, fiquei super focada na alimentação e nos treinos. Nessa hora, ter a orientação e direcionamento do coach foi fundamental. O Gabriel preparou os treinos focados para eu concluir a prova da melhor maneira possível e foram 3 meses de preparação, trabalhando força e condicionamento e muitas vezes, tudo isso fora da zona de conforto, até a exaustão, o que foi s importante para eu me conhecer melhor e saber qual é o meu real limite.

Chegou o grande dia….frio na barriga, ansiedade e sem dúvida alguma, bate um medinho, mas que vai embora rápido porque não temos tempo para isso, temos que pedalar!

A prova foi linda em todos os aspectos, mas foi dura também, principalmente nas subidas mais intensas e na hora da chuva, onde o cuidado é redobrado, mas eu estava muito focada e segura para concluir e tive o apoio do Gabriel, na maior parte do percurso, menos nas descidas, porque ele voa!!!

E lá está a linha de chegada….   brota uma força extra, que eu nem lembrava que tinha e é muita emoção, um misto de conquista, gratidão e muita satisfação. Eu chorei pra caramba por ter conseguido e ainda choro quando lembro!!!

Já subi a Serra do Paiol algumas vezes, e o mais louco no ciclismo é que a gente sempre esquece dos trajetos difíceis, porque só fica mesmo as boas sensações.

Que venha o próximo desafio!!!

O ciclismo é capaz de nos transformar, alterar completamente parâmetros de distância, nosso relacionamento com o meio e proporcionar histórias incríveis.

Todos estão ali com algum propósito que os mantém em movimento, que os desafia, acalma e faz com que cheguem até a linha de chegada.

O final dessa prova teve tons épicos, na chegada ao Itapeva, último grande desafio de subida, o céu fechou e o barulho dos trovões se misturavam com a respiração ofegante.

Uma chuva forte com vento e granizo, varreu o asfalto e encheu de coragem os participantes, o corpo esfriava e a determinação de chegar crescia, era possível ver nos olhos de cada um, essa força extra, que muitos não sabiam que tinham.

Todos saem física e mentalmente muito mais fortes de uma prova como essa.

2019 espera você também.

Caminho dos Anjos – MG

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O Circuito do Caminho dos Anjos fica nas Terras Altas da Mantiqueira, um trajeto circular que passa pelas cidades de Passa Quatro, Itamonte, Alagoa, Aiuruoca, Baependi, Caxambu e São Lourenço.

Segundo o Walter, que acompanha todo o desenvolvimento da rota, o criador Alexandre Gaspar, percorreu o caminho em busca de um encontro espiritual, e ao terminar a rota, analisando a forma que foi acolhido pelas pessoas, a beleza dos lugares por onde passou e para propagar a sustentabilidade e contemplação, batizou de Caminho dos Anjos.

Não existe hoje uma associação oficial cuidando do circuito, não tem credencial ou carimbos, mas já há um movimento para que isso aconteça, combinado com o trabalho de artesãos locais.

Quando falamos no poder transformador de uma cicloviagem, você passa a ser o seu próprio meio de deslocamento entre os locais, o que está inserido nessa experiência vai muito além do visual e do esforço físico, passa pela imersão na cultura e hábitos locais, no entender da história dos pontos de atração, no fomento do pequeno produtor e no olhar para dentro.

Nosso ponto de partida foi em Passa Quatro, mas é possível iniciar em qualquer ponto, só preste atenção na hora de dividir a rota, pois alguns lugares têm pouca estrutura de hospedagem, de bicicleta 3 a 5 dias é o suficiente, a pé pode ser realizado em 10 dias.

 

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Dia 01 – Passa Quatro/Alagoa

65 km – 1500 mts alt

A cidade de Passa Quatro tem a estação como fundo e curiosamente existem muitas torneiras de fonte natural espalhadas pela cidade, dizem que leva esse nome porque o rio cruza quatro vezes o local, o ponto de referência para tudo é a Ponte Barriguda.

Fomos em direção a Itamonte, encontramos a Cachoeira do Vô Delfim, no Rio Verde, batizado assim pela cor verde esmeralda da água, é possível parar alguns minutos baixar a temperatura e recuperar as energias que serão necessárias um pouco mais a frente.

No km 21, Placa do Parque Estadual da Serra do Papagaio, é um longo trecho de bloquetes, com infinitos 21 kms, é o primeiro grande desafio da jornada, a temperatura é um dificultador, existem alguns poucos estabelecimentos durante a subida, use as paradas para se hidratar e continuar.

Trecho final é tranquilo até chegar a cidade de Alagoa, famosa pela receita do queijo Parmesão, nós optamos por ficar um pouco mais a frente, na Pousada da Pedra da Mitra, fomos resgatados na Padaria Centra pelo Lilo.

A recepção do casal é um banho de humanidade, recebemos hospedagem e acolhimento, as instalações são simples, o Jesus 2.0, como é conhecido no local, por transformar água da nascente em cerveja de ótima qualidade, na varanda, ao lado do incansável border collie Bill, degustamos os três tipos produzidos ali mesmo, acompanhado com queijo da região.

Para o jantar, foi preparado uma truta com alcaparra no forno a lenha, que também é utilizado para aquecer a água do chuveiro, ou seja, nem tente entrar na água se o forno não estiver quente, garanto que a água é congelante.

Foi um dos finais de tardes mais lindos que vi, fomos dormir sob o céu estrelado, em um local onde a paz conseguiu um bom tempo para ficar.

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Dia 02 – Alagoa/Cachoeira dos Garcia

50 km – 1530 mts alt

Céu azul, seguimos viagem, no início é só descida até voltar a cidade e entrar novamente na rota oficial, seguimos por 30 km com a companhia do Rio Aiuruoca, subidas e descidas até o km 32, quando saímos de Aiuruoca teremos praticamente só subidas até o km 46, começa no asfalto, muda para terra, até chegar o temido pé de moleque.

É possível durante o caminho fazer uma parada junto ao rio, no km 23 e com mais 5 km vale um mergulho no Pocinho, onde algumas pequenas quedas formam duas grandes piscinas naturais onde curtir a água gelada e natural, trazem a alma de volta ao corpo.

Seguindo a altimetria pelo GPS e analisando nossa planilha de dados, é impossível acreditar que teremos um ganho acentuado no curto espaço de 10 km que faltam, mas te garanto que teremos.

A Pedra do Pico do Papagaio está lá, onipresente, durante todo o caminho, nos observando enquanto seguimos subindo metro a metro.

Na placa de Parque Estadual da Serra do Papagaio, haverá uma sinalização de 9 km até a Cachoeira dos Garcias, a distância é um pouco menor, mas o trecho é duríssimo, prepare-se para descer e empurrar bastante a bicicleta,

O calçamento pé de moleque, é feito de pedras sem qualquer padrão, soltas no piso, além da subida inclinada, o manter a bike em linha equilibrada é uma dificuldade, pois as pedras te jogam de um lado para o outro, persista e continue.

Existe um ponto de apoio na metade da subida, não espere grande coisa, é um container verde com informações do parque, quando passamos estava fechado, mas pare um pouco para descansar.

Vale uma parada no km 43, na pousada Canto das Bromélias, vá até o deck de madeira,você encontrará algumas siriemas no jardim, e já é possível ter uma visão de cima de toda região, tome água e siga mais 3 km até a entrada do Hostel Casal Garcia e Cachoeira dos Garcia.

A chegada tem uma boa descida, que fica impossível de não lembrar que teremos que subir no dia seguinte, o hostel tem energia elétrica há apenas quatro meses, e foi recém construído um anexo para hóspedes que dormem em quartos comunitários e banheiros compartilhados.

Chegamos com o tempo abafado e alguns pingos de chuva lavando nossa alma, a sensação de realização de tarefa cumprida e o visual, mexe com todos nossos sentimentos.

É possível de dentro do restaurante sentir a força da cachoeira dos Garcia, considerada uma das mais bonitas do Brasil, um lugar desenhado a mão, as nuvens, o vale, o som da cachoeira e o vento fresco das montanhas.

O restaurante é comandado pela Renilda, pratos lindos e deliciosos, a truta faz as poucas mesas serem disputadas aos finais de semana, a cachoeira fica a 100 metros e existem duas “prainhas” com piscina natural, para uma merecida recuperação, acreditávamos que o mais difícil já tinha passado e que dificilmente encontraríamos algo mais bonito.

O quarto tem grandes janelas, para que você seja acordado pelo sol, e uma enorme faixa laranja cortando o céu entre as montanhas e as nuvens, contemple e agradeça esse presente.

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Dia 03 – Cachoeira dos Garcia / São Lourenço

74 km – 1490 mts alt

Depois de tanto subir, iríamos finalmente descer, e muito, na verdade descemos, mas….

Faltava ainda algumas subidas pela frente, as pedras voltaram, e por 3 ou 4 km só subimos, até chegar ao local com maior elevação do circuito, 1900 mts, o Vale do Gamarra, o terreno é composto por grandes pedras e o visual impressionante, começa a sonhada descida.

Desceremos 1800 mts, mas o terreno exige habilidade e muito cuidado, as pedras soltas, valas, grandes pedras, fazem a velocidade ser praticamente a mesma que na subida, e em alguns lugares descer da bike é a única opção.

A Casa Rosa, é um dos poucos pontos de apoio nessa etapa, para chegar lá encontramos a pior subida na terra, se tiver com tempo pare para almoçar, é um dos anjos do caminho, saindo pós reabastecer as caramanholas, mais uma boa subida e duas cachoeiras até Baependi, Inferninho e Caixão Branco.

Nós decidimos almoçar em Baependi, o trajeto até São Lourenço fica bem mais suave, muitos trechos planos e alguns da Estrada Real, a sinalização não é muito boa, preste atenção nas entradas.

 

Chegamos a terra das águas e todas suas propriedades de cura.

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Dia 04 – São Lourenço / Passa Quatro

55 km – 900 mts altimetria

Não existe dia fácil, mas o último dia vem como um balsamo, subimos na saída da cidade, onde é possível encontrar duas lojas de bike para qualquer eventual reparo e depois seguimos por quase 30 km de boas retas e subidas curtas, em meio as sombras das árvores de um trecho da Estrada Real.

O visual já não é o mesmo dos outros dias, passando o Vilarejo Porto, teremos uma serrinha de 4 km, com uma inclinação amiga, a visão das montanhas volta e temos uma descida longa até a chegada com a visão de Passa Quatro entre as montanhas.

 

O Caminho dos Anjos tem uma beleza, energia e acolhimento humano singulares, em quatro dias é possível viver diferentes emoções, que é um dos propósitos de uma cicloviagem, importante que você sempre procure profissionais que facilitem essa experiência positiva, existem lugares distantes e com pouca estrutura, qualquer eventualidade sem um planejamento pode encerrar prematuramente essa vivência.

Uma cicloviagem é sem dúvida transformadora, uma forma de purificação, entramos carregados e a natureza, as pessoas do caminho, nos entregam muito melhores do outro lado, todo nossos bens  materiais sujam, empoeiram e nossa alma sai limpa e leve.

Faça uma cicloviagem !

 

10 Coisas Imperdíveis do Caminho dos Anjos

 

– Lojas de queijos e produtos de Minas da Estação de Passa Quatro (compre na volta)

– Um mergulho na piscina natural do Pocinho

– A Cervejaria do Lilo e Letícia na Pedra da Mitra em Alagoa

– O visual no deck no Canto das Bromélias

– A cachoeira dos Garcia

– O amanhecer no Hostel Casal Garcia

– A truta da Renilda

– Um minuto em silêncio no Vale do Gamarra

– O Almoço na Casa Rosa

– Parque das Águas em São Lourenço

Rota 5 Cidades

No interior de SP, ciclorrota cruza 5 cidades em 45 Km

Ao longo dos seus 45 km de extensão, a Ciclorrota das 5 Cidades oferece a possibilidade de cruzarmos Campinas, Itatiba, Amparo, Pedreira e Morungaba em um pedal só.

A partida é de Joaquim Egídio-Sousas, distritos que pertencem a Campinas. O restaurante Feijão com Tranqueira é um dos diversos pontos com possibilidade de estacionamento fácil e que muitos escolhem para iniciar o pedal.

Apesar da pouca distância da cidade de Campinas, Joaquim Egídio conserva características da época do comércio cafeeiro; grandes fazendas e restaurantes típicos, com paisagem bucólica dentro do cenário verde de 222 km² declarados como área de proteção ambiental.

O visual já é bonito desde o primeiro metro pedalado. Seguimos pelo asfalto até encontrar a primeira saída de terra, onde nos afastamos sentido Observatório, local tradicional com a opção de seguir até o ponto mais alto ou fazer a tradicional foto nas antenas e seguir sentido Morungaba.

A cidade de Morungaba é estância climática e faz parte das doze cidades do Circuito das Frutas. Iniciam-se as boas subidas e a visão aérea segue até a chegada no centro. Se estiver com um pouco mais de tempo vale a parada no famoso Doces David, que fica lotado para vender suas geleias, compotas e doces cremosos, e/ou na cervejaria Kremer, que oferece um tour pela produção de cerveja local. Visitar a Companhia das Ervas, empresa de tempero mais conhecida do país, também é uma opção.

Como nosso tempo era curto, paramos apenar para repor água nas garrafinhas e seguimos para Itatiba, essa é uma das partes mais duras do circuito. Subimos por cerca de cinco quilômetros e entramos numa floresta de eucaliptos brancos, que deixava o percurso lindo, sombreado e perfumado.

As trilhas da região são conhecidas e tem nome. Optamos por fazer a da Fazenda Malabares e a Globo Rural; uma longa descida nos levou até uma represa, onde encostamos numa árvore que estava entre as duas partes do lago formando uma ilha onde a água refletia nossa imagem.

A Trilha das Cabras foi o destino seguinte. Pelo nome já esperávamos que iríamos subir um pouco mais, as placas sinalizavam os nomes das trilhas, a saída de Morungaba e as passagens por Amparo e Pedreira.

Finalizamos chegando no asfalto a poucos metros do restaurante de partida, onde sentamos e começou a disputa de quem tinha feito a foto mais bonita.

A Ciclorrota 5 Cidades é dura pela altimetria, são quase 1.000 metros de subida acumulados, mas a rota não apresenta grande dificuldade técnica, a não ser na primeira grande descida que requer um pouco mais de cuidado.

A variedade de paisagem durante o percurso é o que a fez ser considerada pelos participantes como uma das mais belas trilhas do ano. Em 45 km, além da curiosidade de cruzar cinco cidades, apresenta o visual do alto das montanhas, trajetos fechados entre os eucaliptos, trechos com muita água, pequenas igrejinhas e palmeiras imperiais pelo caminho.

One Bike Hub organiza grupos com saídas dentro do calendário ou esclarece qualquer dúvida que você tenha do trajeto, que foi levantado e compartilhado pelo Jota Ciclo, que organiza a série Jota Series de provas de Road e MTB.

Marcella Toldi

Treinos, autoconhecimento e escolhas: conheça a trajetória de Marcella Toldi no ciclismo de estrada

Fui convidado a conversar com a atleta da Cannondale Marcella Toldi, ou Mati para os mais próximos. Fiquei ansioso para conhecer mais da história da menina (34) que nasceu dentro de uma família em que o esporte faz parte da rotina, tendo a fazenda do avô nas montanhas de São Bento do Sapucaí como cenário das primeiras e despretensiosas aventuras.

Chegando na Power Cycle – academia de ciclismo indoor localizada em São Paulo -, avistei Marcella sentada tranquila; ela levantou com um sorriso largo e o brilho nos olhos de quem encontrou seu propósito nessa vida. Pelo porte esguio e magro, ela poderia ter escolhido competir outros esportes que não o ciclismo.

Como tudo começou.

Da mesma forma que todas as crianças que nasceram na época em que se podia brincar além do portão de casa, correr e pedalar eram as atividades das horas vagas. E ainda que sem nenhuma pretensão esportiva, haviam os olhares atentos da família.

Em São Paulo, devidamente matriculada em um clube, inscreveu-se simplesmente em todas as modalidades que podia. A natação foi o esporte em que competiu até os 12 anos de idade, quando sentiu necessidade de mudanças.

Encontrou aos 17 anos sua nova turma na corrida de aventura, fazendo as provas em equipe e já encaixando algumas etapas de mountain bike nas folgas disponíveis. Fazia as contas no calendário para encaixar tudo que queria.

Dentro das provas de aventura, que exigem um esforço no limite físico, Marcella foi moldada desde cedo para alta performance por sua mentora Cris Carvalho, que incentivou seu desempenho e rendimento; despertando esse espírito competitivo de buscar sempre o máximo. Cris trabalhou com a atleta o conceito do ‘mindset’, que busca sempre o crescimento e o máximo esforço para se aprimorar através de atitudes mentais.

Outros Caminhos

Entre as atividades esportivas, a vida acadêmica a formou em administração de empresas. Marcella encarou uma carreira corporativa de sucesso, foi convidada a trabalhar e morar em Londres por um bom tempo; foi quando os treinos passaram para segundo plano. O cinza da cidade começou tomar conta do espírito de Marcella, que já não se sentia feliz e não enxergava sentido nenhum em continuar.

A difícil decisão de mudar e escolher entre largar tudo ou manter-se no que muitos classificam como vida de sucesso foi difícil. Mas, com o apoio da família, Mati resolveu ouvir seu chamado e voltou para o Brasil. Trabalhou em uma ou outra empresa. Treinou muito. E na primeira prova de ciclismo que competiu subiu ao pódio, levou pra casa o troféu e a certeza de um caminho a seguir.

As Lulus

O ciclismo hoje vem crescendo, seja através da mobilidade ou pelo esporte. Outro grande movimento é o das mulheres buscando seu espaço, deixando seus receios, ficando muito mais confiantes e ganhando força e volume também no universo do ciclismo. Ainda que sejam menos numerosos em relação ao número total de homens nessa pratica, o crescimento é imenso.

Dentro desse cenário, Gisele Gasparotto convidou Marcella Toldi para fazer parte de um clube de ciclismo exclusivamente feminino. A Lulu 5 (Lulu Five) acompanham treinos de mulheres, estejam elas começando no pedal ou querendo subir no pódio.

O objetivo principal vai além dos resultados, Marcella explica: ” Nosso papel principal é tocar a vida de outras mulheres através do esporte”. O crescimento na autoestima, a confiança, a sensação de poder e ser feliz são as bases dos clubes de ciclismo feminino que surgem por todo Brasil.

E elas querem ir mais longe. Começaram recentemente um treino na USP para acolher todos os grupos de mulheres que queiram sentir o poder que o esporte, a bicicleta e a união traz.

A Equipe Cylance

Marcella foi convidada para correr por três meses na Europa, e seu nível no ciclismo passou para outra fase. Vivenciando o dia a dia de treinos pesados, ela buscou entender as diferenças entre os mundos do amadorismo e do ciclismo profissional. Mati colocava os dois pés no profissional, onde cada detalhe é cuidadosamente estudado.

Passou a se conhecer melhor, seu mapa metabólico apontava onde estavam as deficiências a serem trabalhadas. As inovações em treinamentos, convivência com as melhores do mundo fizeram toda a diferença nesse processo evolutivo.

Nessa temporada de volta ao Brasil, foi buscar algum lugar onde pudesse desenvolver as capacidades adquiridas nos treinos feito fora do país, e encontrou na academia de ciclismo indoor um excelente centro de treinamento.

O que aprendi através do esporte

“Temos que nos entregar de corpo e alma, independente do que aconteça, ganhando ou não. Ambos tem pontos positivos e mensagens importantes, que apresentam lições sobre aproveitar todo o parendizado que cada resultado traz. Existe um lado naquele resultado que não era o que queríamos, e é tão bonito quanto; precisamos conseguir absorver a plenitude de toda experiência que vivemos”.

O que eu vi na Marcella

Mati ou Marcella é além de uma excelente atleta. Ela é humana, acessível e carrega no braço uma oração; que é objeto de sustentação em vários momentos em que o limite já havia ficado para trás. Tem consciência do seu papel e está abrindo a porta para que novas gerações encontrem uma estrutura e um caminho muito melhor, seja ele como atleta ou puramente como mulher.

Apesar dos resultados pessoais expressivos, coloca tudo na conta do treinamento e não esquece os nomes que a acompanham nesta jornada. Fala sempre no coletivo, não tem a vaidade obsessiva de alguns atletas; o que me fez ter uma empatia sincera pela talentosa ciclista. Gosto mais ainda da menina que pedala com o mesmo brilho nos olhos de quando nadava no rio da fazenda de seu avô em Sapucaí.

Brasil Ride Road – Pardinho

Brasil Road Ride – Pardinho

 

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O Brasil Ride é conhecido por fazer provas desafiadoras de mountain bike, onde os atletas e suas máquinas chegam ao limite extremo, o português Mario Roma, que por sinal pedala demais, e sua mulher Andrea Roma, são os responsáveis pela criação das rotas e toda organização.

Para sorte dos ciclistas de estrada, eles também criaram uma etapa Road, e o cenário escolhido foi a região do Polo Cuesta, que são formações rochosas comum lado em leve declive e o outro em forma de escarpa, as cidades de Bofete, Botucatu e Pardinho formam esse polo.

Pardinho que foi o local de partida já tinha destaque por essas formações como: as Três Pedras, o visual de tirar o fôlego da Pedra do Índio e o mais famoso que é o Gigante Deitado, que nos faz lembrar a silhueta de um gigante descansando, e onde acabaram de inaugurar uma extensa tirolesa, para os corajosos que querem deslizar pelo vale.

Além da região ser favorecida pela beleza natural, a parte gastronômica também se destaca, um dos pontos de encontro mais antigos é o Bar do Vivan, famoso pela vista, pela coxinha e pelos papagaios que vem comer na sua mão.

O Caminho Artesanal do Queijo Paulista, tem o Pardinho Artesanal como representante e com uma estrutura muito bem montada, é preciso agendar a visita, e ainda temos o Cuesta Café, um lugar delicioso no alto da serra, pra relaxar e curtir.

Vamos falar da prova.

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Dia 27 de maio foi a data escolhida para a prova, apesar da conturbada situação, a dificuldade em relação a abastecimento, a prova foi mantida e próximo de 300 atletas estavam presentes.

A prova já foi considerada entre as 10 melhores provas de ciclismo de estrada e ganhou Três Guidões de Ouro, fomos de perto entender a razão.

O circuito inicia no posto Rodoserv Star na Castelo Branco e logo de cara o desafio são os 6 km de serra, com uma diferença altimétrica de 300 metros, a impressão que temos é que Pardinho fica em uma montanha, cercada de montanhas por todos os lados, o sobe e desce é constante durante todos os 70km, exigindo bastante das pernas e da cabeça.

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Os ciclistas mais rápidos formaram blocos e foram ganhando terreno, o trajeto era linear, o que possibilitava acompanhar a dinâmica e velocidade desses pelotões enquanto voltavam, o vento ajudou em boa parte e o agrupamento com outros ciclistas que estavam no mesmo ritmo, permitiram controlar e armazenar as energias até o final.

O pórtico de chegada fica bem no alto de uma subida, de boa inclinação que faz os olhos encherem de lágrimas, ali encerra a cronometragem, mas ainda temos 5km de descida pra curtir o feito, respirar mais fundo e parabenizar os ciclistas ao lado.

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A prova conta com boa organização, dois pontos de hidratação e o asfalto que geralmente é um problema para as provas de estrada, estava em ótimas condições, as estradas são fechadas e o tempo limite para completar são 4 horas.

A volta para São Paulo, foi com a medalha pendurada, um olho na estrada e outro no ponteiro de gasolina, em 2019 a prova terá uma nova edição, espero que mais pessoas consigam chegar até lá.

Ciclismo indoor , prós e contras.

Treinos Indoor : a Febre das Academias de Bike

 

Com a chegada do outono, as temperaturas caem bastante, e acordar de madrugada para enfrentar as gélidas manhãs, acaba exigindo um grau de esforço a mais e muitos acabam não tirando o nariz do cobertor quentinho.

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O rolo de treinamento é uma boa solução, hoje temos excelentes modelos que permitem rapidez para colocar a bicicleta, fazem simulação de provas e competem virtualmente, mas mesmo assim é solitário, e nós ciclistas somos sociais por natureza e precisamos de um contato mais humano para atividade ficar mais divertida.

Atualmente, com o crescimento do ciclismo, além das academias que oferecem aulas de spinning, surgiram muitos espaços específicos de Bike Indoor e os equipamentos evoluíram muito desde seu início nos anos 90.
Em São Paulo é possível falar de cinco ou seis redes que apostam na modalidade do ciclismo indoor para encherem as salas, aumentarem o som e soltarem o pedal.
Uma das recém-inauguradas em São Paulo, é a Power Cycle, rede com sede em Minas Gerais que além de fazer o teste de FTP (Functional Threshold Power), que é a medição de potência que define o valor médio de energia transmitido, que hoje é a principal referência utilizada nos treinamentos, também trouxe a Wattbike e a Câmara de Altitude.

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A Wattbike foi desenvolvida pela British Cycling Federation, para o programa olímpico de 2012, com a vantagem de fazer a simulação do treino através da resistência aerodinâmica e não por freio magnético, como no rolo e outras bikes estacionárias, além disso, através de um app você tem todos os dados de controle, cadência, bpm, força de cada perna e rotação ténica da pedalada, ou seja, é possível melhorar e corrigir sua pedalada durante as aulas.
A Câmara de Altitude simula um ambiente com ar rarefeito, para aumentar a capacidade de transporte de oxigênio no sangue, acelera a produção de células satélites e a maturação de fibras musculares em músculos lesionados.

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Principais vantagens do treino indoor:

– Endurance: um pouco diferente da rua que você para de pedalar, por semáforos, pedestres, para comer ou tomar água, a bicicleta estacionária de obriga a manter-se pedalando o tempo todo, o que faz render mais e ser um desafio.
– Intensidade: como não existe nenhuma exigência técnica na condução, seu foco aumenta e é possível se concentrar apenas na pedalada, fechar os olhos e deixar a batida da música te empurrar.
– Sociabilização: uma atividade onde você tenha outras pessoas participando é sempre mais divertido e motivador, e hoje em algumas academias existem até um ranking de performance para apimentar as aulas.
– Segurança e Comodidade: frio, chuva, insegurança, trânsito e tempo, são fatores que muitas vezes prejudicam ou inviabilizam o treino outdoor, então nesses dias e nos que antecedem a prova, use como um coringa para completar seus treinamentos sem correr grandes riscos.

Principais desvantagens do treino indoor:

– Musculatura Estabilizadora: as atividades indoor não exigem muita técnica de ciclismo e menos ainda de equilíbrio, muitos músculos deixam de ser trabalhados por esse motivo e também por nos mantermos quase sempre na mesma posição, enquanto na bicicleta você altera as pegadas, pedala em pé, se inclina nas descidas, então use como complemento do seu treinamento para a prova mas não como base principal.
– Variações Reais: por mais próximo que cheguem do real, o outdoor tem sempre o imprevisível, vento, chuva, altas ou baixas temperaturas, que interferem diretamente no seu desempenho.
– Técnica: As atividades indoor não exigem muita técnica de pedalada, é claro que você pode melhorar, ainda mais com os índices em tempo integral que temos hoje, é normal a cadência indoor ser um pouco maior, mas a melhoria em posicionamento principalmente nas subidas e descidas deve ser trabalhada no outdoor.

As atividades indoor jamais irão substituir o prazer da pedalada pelas ruas, estradas e montanhas, mas podem ser usadas como atividades complementares de treino, naqueles dias complicados de sair com a bike, na melhora técnica da pedalada, já que você passa a ter muitas informações e um professor conduzindo e principalmente de despertar o ciclismo para o maior número de pessoas, pode ser o primeiro passo para ter coragem para enfrentar as aventuras com uma bicicleta real por aí.

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Caminhos do Capivary

Caminhos do Capivary

A criação de rotas ecoturísticas, são uma forma de trazer visitantes e fazer com que vivenciem e conheçam a história e tenham um contato mais de perto com a natureza e moradores locais.

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A Caminhos do Capivary, fica a inacreditáveis 40 km da capital paulista, em São Bernardo, onde imigrantes, principalmente italianos e poloneses vieram para trabalhar na famosa indústria moveleira do local.
Conhecida como região pós balsa, é a última fronteira do município, o trajeto principal tem 25 km de distância, uma altimetria de 450mts, acessível até para os iniciantes no ciclismo, a recomendação é que se vá de mountain bike pelo terreno que apresenta partes cascalhadas.

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Os pesqueiros são comuns na região, geralmente o ponto de partida é de um deles, Sol Pescarias ou Pedra Branca, o último tem como atração culinária, a costela de tilapia que deve ser reservada com antecedência.
Em fevereiro e março, o caminho fica pintado de rosa, o intenso floreio dos manacás deixa tudo mais colorido e bonito, pedalamos margeando a Represa Billings e aos pés do Parque Estadual da Serra do Mar, que abriga muitas espécies da fauna e flora da Mata Atlântica, considerada a mais rica em biodiversidade.

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Alguns aspectos de modo de vida das regiões rurais ainda são conservados, desviamos da rota principal em direção ao alambique, local onde o tempo parou, sem sinal de celular, um pequeno balcão onde a conversa não tem relógio, na parte de trás, os cambucis sendo colhidos no pé, uma pequena horta e mesinhas à sombra das árvores chamando para um pic nic a beira da represa. Hora de relaxar e aos que gostam, provar dos tonéis de cachaça produzidos no local.

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Existem outros tantos atrativos, como fazer um passeio na canoa dos pescadores, ou visitar uma tribo indígena, os Kurukutus, com quase 50 famílias e 300 pessoas, fazem o ritual de dançar e cantar em volta da fogueira ao por do sol, o visual da Estrada da Barragem, as balsas, enfim é um roteiro cheio de atrativos que também pode ser feito a pé ou a cavalo. É bom lembrar que a rota é aberta a veículos, e a atenção na condução se faz necessária em todo o caminho.
Todo o caminho é autoguiado com placas e carimbos impressos nos postes com as letras CC em preto e amarelo, cuidado em alguns pontos que a visualização das placas não está tão fácil, mas não apresenta grandes dificuldades.
Para quem prefere uma visita guiada, a One Bike Hub opera no local e em março levará mais um grupo para viver essa experiência.

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Para aqueles que querem sentir o gostinho de uma cicloviagem, mas não se sente seguro ou não tem o tempo necessário, o Caminhos do Capivary é ideal e na medida para sentir esse gostinho de liberdade.

 

GFNY Chile – A primeira prova em outro país

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O Gran Fondo, é uma prova que teve sua origem na Itália em 1971 e rapidamente se popularizou e hoje conta com centenas de provas, o GFNY ou Gran Fondo New York foi fundado em 2011, e o sucesso instantâneo do evento, levou ao GFNY World Series, que é a realização da prova em diversos países do mundo, o Brasil recebeu a primeira edição em agosto, e em novembro foi a vez do Chile.

As etapas são uma forma de nós ciclistas amadores, nos sentirmos dentro de uma grande prova de ciclismo, com toda a organização e desafio das mesmas, com a possibilidade de escolher o percurso completo, 160km, ou metade dele, amparado pelo slogan, Be a Pro for a Day.

O Chile por si só, já é um convite a visita, uma faixa estreita na costa oposta a brasileira, encravado entre a cordilheira e o pacífico, é capaz de proporcionar paisagens como do deserto do Atacama, o mais seco do mundo e também o clima alpino, propenso a neve mais ao sul.

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No meu imaginário, só pensava nas grandes vinícolas, forradas de uvas e em tomar muito vinho em copo de coca cola, e é claro, também completar os 160 km da prova, um desafio bem considerável.

O transporte da bicicleta nas viagens, é uma das principais dúvidas para nos organizarmos, aconselho ter ou alugar um mala bike, levar a bicicleta até um mecânico de confiança, para que ele te ensine a montar e desmontar, sempre com uma atenção especial na força para apertar mesa e canote, um torquimetro é bastante indicado, ou levar a bicicleta para ser montada na exposição que acontece um dia anterior, eu prefiro montar, testar e se necessário levar para algum ajuste.

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Outro fator muito importante é telefonar para a cia aérea e confirmar, gravar, guardar email, do valor cobrado para o transporte, pois pelas dimensões vai como carga especial, a Latam cobra cinquenta dólares, mas esses valores variam entre as empresas.

Arrumando as malas é impossível deixar de pensar no filme Desastre nos Andes, onde um time de rugby sofre um acidente e fica preso na cordilheira, foi difícil explicar no raio x, o porque de eu ter nove latas de atum, cobertor de pluma de ganso, sinalizadores, 3 lts de água e pneus com cravo na bagagem de mão, nunca se sabe, vai que a bicicleta fica inteira também.

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Santiago do Chile, é uma cidade muito bacana, oferece a possibilidades de treino no Cerro San Cristobal, ate Farellones ou esticando um pouco mais até o Valle Nevado, era possível encontrar ciclistas treinando, eu resolvi guardar as pernas e as energias para o dia da prova.
No dia anterior, aconteceu a entrega dos kits no Hotel Plaza Del Bosque, degustação de vinhos, ajustes, a disputada lojinha com itens da marca e principalmente o ar fica carregado com a expectativa da chegada da prova, os ciclistas se encontram conversam e fazem suas fotos junto ao grande mapa do percurso.

A largada seria em Casablanca, distante 70km de Santiago, de dentro da Viña Veramonte, entre os vinhedos, a temperatura estava na casa dos 10 graus e era possível identificar claramente a nacionalidade dos participantes, os argentinos e chilenos de manga curta e sorrindo, enquanto os brasileiros estavam de casaco, gorro, tremiam e mal conseguiam falar, eu era um desses.
Contagem regressiva e partimos, o primeiro km foi estilo mtb, na terra até encontrarmos o asfalto e os pelotões se formarem, uma das características mais legais do GFNY é que a obrigatoriedade do uso da camisa, faz a estrada virar um grande tapete verde, formando um colorido especial com o céu azul e as bicicletas em movimentos.

O trajeto tem boa parte plano, com algumas subidas e uma parede que muitos ciclistas simplesmente perdiam a força e caíam para o lado, encontrei meu companheiro de treinos um pouco antes dessa subida e seguimos no mesmo ritmo até cruzarmos a linha de chegada juntos.

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Uma prova fora do país, sempre fica na memória, seja pelas paisagens, por estar misturado em diversas nacionalidades ou por todo planejamento e novidades que só uma viagem nos oferece.

O GFNY World Series, irá visitar entre outros lugares, Bali, Monterrey, Colombia, Costa Rica e o evento principal que é realizado em Nova York, vontade estar na linha de largada e aumentar a coleção de medalhas não falta.]

Be a Pro For a Day